Catarina anuncia grupo de trabalho para organizar rede de atendimento às mulheres em São Borja



Os altos índices de violência contra as mulheres na cidade de São Borja foram o tema central da audiência pública promovida pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos nesta sexta-feira (26). Segundo as estatísticas apresentadas, de cada dez registros de agressão feitos na Delegacia de Polícia da cidade, sete são de crimes praticados contra mulheres. Realizado no plenário da Câmara de Vereadores, o debate foi coordenado pelo presidente da CCDH, deputado Catarina Paladini, e contou com a participação do deputado Bombeiro Bianchini e de representantes da Secretaria da Saúde, Judiciário e Universidades da região.


Catarina lembrou que a violência doméstica é, em muitos casos, fruto de uma cultura estabelecida ainda dentro de casa, quando os irmãos são tratados de forma diferente e/ou, são testemunhas e vitimas de agressões. “Por essa razão,  precisamos falar sobre o tema. Levar a questão da violência para a sala de aula, estabelecer uma rede de informações desde a infância, passando pela adolescência... É preciso que haja uma mudança cultural, que combata o machismo. O respeito à mulher essencial para a sociedade”, afirmou. Um dos projetos do parlamentar vão ao encontro do tema e propõe inserir na grade curricular do ensino médio o conteúdo da Lei Maria da Penha.

O coordenador do Conselho de Saúde do município, Cláudio Tasca, destacou a preocupação com o número de mulheres agredidas e os feminicídios registrados. “Nossa realidade diante da violência contra mulher é muito triste e preocupante. Não temos uma rede adequada de atendimento e, na maioria das vezes, a mulher, por coação, após fazer a denúncia, não dá seguimento ao processo por medo do agressor. Além disso, na maioria das vezes a vítima não ter para onde ir. A rede de atendimento hoje é uma necessidade urgente para o município”, disse.

A titular da Coordenadoria Municipal da Mulher, Ângela Costa, disse que, conforme dados nacionais da segurança pública, a cada duas horas uma mulher é assassinada no Brasil. “A expressiva maioria das agressões acontece dentro de casa, independente da condição social dessa família. O agressor normalmente é companheiro, marido, ou alguém com quem ela convive diariamente”, afirmou. Ângela disse, ainda, que "a violência emocional sofrida após o trauma físico é ainda maior, porque muitas vezes não fazem denúncia por medo do preconceito que vão sofrer. Precisamos mudar a cultura, mas acima de tudo, temos de quebrar os mitos de que 'mulher gosta de apanhar', ou 'apanhou, ou foi violentada, porque provocou', para que possamos alcançar a condição de igualdade”.

A representante da Unipampa, professora Adriane Hartemik Cantini, destacou que a universidade atua na área da pesquisa e está ouvindo profissionais que atuam em cidades brasileiras e, também, na Argentina, onde a rede de atendimento já é efetiva. “Estamos ouvindo profissionais, levantando dados para contribuir com o debate e entender como é o profissional que atua nessa área, porque esse é um fator fundamental para que o atendimento dê certo”, avaliou.

A defensora pública de São Borja, Carolina Verçosa, destacou a multidisciplinaridade que envolve a violência doméstica. “É um tema complexo e que precisa ser tratado de maneira multidisciplinar. No nosso atendimento,  recebemos mulheres com baixa autoestima, que trazem registros de uma família de origem onde a violência é uma realidade. Assim, as mulheres ou eram vítimas ou presenciavam agressões. Por isso, acreditamos que é preciso empoderar as mulheres informando e educando-as para que possam se defender e buscar apoio no lugar certo. Mas sem uma rede adequada, em que a educação também seja incluída, não será possível”, ressaltou.

O vice-prefeito de São Borja, Jeferson Homrich, falou da importância da cidade estar em alerta para o problema. “Sabemos da nossa responsabilidade como gestores, cidadãos e pais. É necessário reforçar a cultura do respeito e da igualdade de gênero para mudarmos o quadro que se apresenta na nossa cidade”, afirmou.

Como encaminhamento da audiência público, ficou acertada a criação de um grupo de trabalho em defesa dos direitos da mulher, que tratará da criação da rede de atendimento. O objetivo é integrar ações educativas, de saúde e de segurança para a mulher e os demais integrantes da família. A instalação de uma casa de acolhimento também foi apontada como uma das necessidade mais urgentes.

Também participaram da audiência pública o titular da delegacia de São Borja, Marcos Viana, o presidente do legislativo municipal, Eldomir Marchezan, a vereadora, Ana Claudia Gattiboni, e a representante da Secretaria Municipal de Saúde, Catiele Flores de Oliveira.

Texto: Cristiane Franco / Foto: Divulgação