Profissionais da saúde debatem dificuldades e
 alternativas para mulher trabalhadora amamentar 



As dificuldades enfrentadas pelas trabalhadoras para continuar amamentando quando a licença maternidade acaba foram discutidas por profissionais da área da saúde e representantes de entidades da sociedade civil em audiência pública da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa na tarde desta segunda-feira (31).



O encontro foi proposto pela deputada Liziane Bayer (PSB), autora do Projeto de Lei 150/2015, que institui a Semana Estadual de Aleitamento Materno, cujo propósito é estimular a sociedade a apoiar a mulher que amamenta. “Em função da volta ao trabalho, e de uma rotina de vida atribulada, muitas mulheres deixam de amamentar. Nosso propósito é difundir informações sobre a importância desta prática para a saúde das mulheres e das crianças”, explicou a parlamentar.

O leite materno é considerado a primeira vacina do bebê. Além de suprir as necessidades nutricionais nos primeiros seis meses de vida, inclusive de água, o leite materno promove o desenvolvimento da imunidade das crianças, reduzindo a ocorrência de doenças respiratórias, diarreia e alergias. Outro benefício é a prevenção de problemas fonoaudiólogos, ortodônticos e dentais, associados ao uso da mamadeira.

As mães que amamentam também são beneficiadas. A prática diminui o sangramento pós-parto, faz o útero voltar mais rápido ao tamanho normal, reduz as chances de câncer de mama e de ovários e ajuda a mulher a recuperar o peso pré-gestacional.

A chefe do Serviço Materno Infantil do Hospital de Clínicas, Lilian do Espírito Santo, afirmou que a taxa de amamentação aumentou, consideravelmente, desde a década de 1970, passando de 2 meses, em 1974, para 14 meses, em 2006. No entanto, a amamentação exclusiva até os seis meses continua, segundo ela, sendo um desafio na sociedade brasileira. O retorno das mães ao trabalho é considerado a principal causa do desmame precoce. “Embora as estatísticas apontem que cerca de 30% das famílias do mundo tenham como fonte de renda principal a mulher, falta apoio para que ela possa conciliar o trabalho e a amamentação”, frisou.

Além de incentivar as empresas a aderir à licença maternidade de seis meses, Lilian recomendou a instituição das chamadas Salas de Apoio à Amamentação nas empresas. “São locais pequenos, mas com condições higiênico-sanitárias, onde as trabalhadoras podem retirar e armazenar o leite para levar para casa no final do expediente. Basicamente, são necessárias uma pia, uma poltrona e um freezer”, explicou, lembrando que das 100 salas certificadas pelo Ministério da Saúde, quatro estão localizadas no Rio Grande do Sul.

O retorno às atividades profissionais com mais motivação, a redução das faltas ao trabalho em decorrência de doença do filho e a retenção de talentos são, conforme Lilian, algumas das vantagens auferidas pelas empresas com o apoio à amamentação.

Marketing
A deputada Regina Becker Fortunatti (PDT) lembrou a ampla campanha de marketing, promovida na década de 1970, por uma empresa multinacional do ramo de alimentação, para ressaltar os benefícios do leite em pó, especialmente, às crianças. “Assistimos a uma campanha poderosa, cujo propósito era difundir na população a ideia de o leite em pó era mais saudável para o bebê. Foi um desserviço à sociedade e, altamente, prejudicial para mulheres e crianças”, apontou.

A enfermeira Cristiane Laitamberque, do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica (PUC), afirmou que, atualmente, os maiores obstáculos à adesão ao aleitamento materno são o desconhecimento das vantagens a mães e filhos, práticas inadequadas nos serviços de saúde e falta de confiança da mulher na capacidade do leite suprir, adequadamente, as necessidades do bebê.

O chamado contato pele a pele, que é o primeiro contato da mãe do filho ainda na sala do parto, segundo ela, facilita a amamentação. Em 2014, a prática ocorreu em 49,28% dos partos ocorridos no Hospital São Lucas. Em 2015, o índice subiu para 72,18%.

A nutricionista Betina Soldatelli, representante do Grupo Hospital Conceição (GHC), ressaltou a importância da estratégia Hospital Amigo da Criança, lançado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1991, para promover aleitamento materno no âmbito hospitalar. O Rio Grande do Sul conta com 16 instituições com este status, sendo cinco em Porto Alegre. O GHC é uma destas instituições que adota também a licença maternidade de seis meses para suas funcionárias e a Sala de Apoio à Amamentação, concedendo dois intervalos diários de 30 minutos para que as trabalhadoras amamentem.

Além disso, os serviços do GHC, em respeito às Normas Brasileiras para a Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Protetores de Mamilos (NBCAL), não recebem representantes comerciais de indústrias de alimentos para bebês, não expõem brindes e amostras destas empresas no ambiente de trabalho e não mencionam o nome comercial dos produtos, eventualmente, utilizados. Texto: Olga Arnt - Foto: Elaine Martins