Diagnóstico do leite aponta problemas de
renda, falta de mão de obra e infraestrutura 



Um abrangente diagnóstico da atividade leiteira no Estado que apontou desafios e gargalos para a sustentabilidade de agricultores e indústrias foi apresentado, nesta sexta-feira (29), durante a audiência pública da Cadeia Produtiva do Leite, na Fenasul, em Esteio, promovida pela Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembleia Legislativa. O Relatório Socioeconômico da Cadeia Produtiva do Leite apontou carência de mão-de-obra e necessidade de investimentos em infraestrutura como estradas e eletrificação rural, além de urgência na modificação de parâmetros de pagamento ao produtor. Hoje, a maioria das empresas remunera pelo volume entregue e não pela qualidade.    


O deputado Elton Weber (PSB), que propôs e coordenou a audiência, disse que a radiografia subsidiará o trabalho da Comissão de Agricultura no sentido de melhorar as estatísticas negativas apresentadas. “Temos grandes desafios pela frente, esse relatório será uma ferramenta importante para que se desenvolvam políticas de incentivo em especial para manter o produtor no campo com renda e resolver o problema da sucessão rural”, explicou Weber.

De acordo com o estudo coordenado pelo Instituto Gaúcho do Leite (IGL), em parceria com Emater-RS e Famurs, o Rio Grande do Sul tem 198,8 mil produtores e a atividade impacta a economia de 94% dos municípios gaúchos, num total de 467 cidades. De acordo com diretor-executivo do IGL, Ardêmio Heineck, dados que mostram o potencial da atividade na alavancagem da economia. Apesar da sua representatividade, 45% dos produtores estão produzindo até 100 litros ao dia, menos do que exigem parte das indústrias e, por isso, correm o risco de serem excluídos. A tendência foi criticada por Weber bem como pelos deputado Zé Nunes e Altemir Tortelli, que pregou o fim do poder dos transportadores no estabelecimento de rotas que penalizam os agricultores e prejudicam o controle de qualidade.

O presidente da Fetag-RS, Carlos Joel da Silva, foi direto em sua crítica sobre a atual formulação de remuneração exercida pela maioria das empresas: “Temos que decidir se queremos concentração da produção em poucos produtores e a exclusão da maioria ou se vamos optar pela inserção destes agricultores. Nós da Fetag defendemos a inserção.” Silva propôs ainda isenção fiscal atrelada à manutenção de produtores pelas empresas, redução de custos, e um programa de governo para o leite. 

Para o secretário do Desenvolvimento Rural Tarcísio Minetto, a inserção deve ser o caminho adotado já que a atividade tem toda condição de ser rentável. “Hoje com 100 litros de leite a R$ 0,85 a renda da família poderia ser de R$ 2,5 mil ao mês. Por isso, temos preocupação grande com o futuro da profissão”. Já o presidente da Emater, Clair Kuhn, prometeu apoio e disse que a cadeia é prioridade.

Durante a audiência, o vice-presidente do Sindilat, Raul Amaral, falou sobre oportunidade de negócios. De acordo com ele, apesar do consumo ter crescido, o Rio Grande do Sul, segundo maior produtor do Brasil, com produção de 4,8 bilhões de litros, precisa ampliar exportações e vendas para outros estados. Segundo ele, hoje há condições de crescer 20%. Para o presidente da Associação Gaúcha dos Laticinistas, Ernesto Krug, a pesquisa será um divisor de águas. A audiência foi aberta pelo presidente da Assembleia Legislativa, Edson Brum, que falou sobre a importância da cadeia leiteira para a sociedade gaúcha e defendeu punição para os que agem de forma irregular. Texto: Patricia Meira /Foto: Pedro Belo Garcia